quarta-feira, 19 de março de 2008

DEFESA DO BRINCO DE OURO E MOISÉS LUCARELLI

Meu negócio, é falar (áudio) de boleiros do passado, e não escrever. De repente, a gente se sente na obrigação de interpretar posições daqueles que não têm vozes, e gostariam de alardear aos quatro cantos de Campinas para sepultarem de vez essa hipótese de relegar os estádios Brinco de Ouro e Moisés Lucarelli, de Guarani e Ponte Preta, respectivamente.
Ah se o mestre Sérgio José Salvucci fosse vivo! Como jornalista identificado com as coisas da Ponte Preta, com certeza contestaria com veemência a iniciativa de conselheiros da Ponte para se trocar o Majestoso por uma arena. O mesmo se aplica ao também jornalista falecido João Monteiro, que ao observar a maquete do estádio do Guarani, há mais de 50 anos, a rotulou de um brinco, e de ouro, logo sugerindo o nome de Brinco de Ouro, aceito unanimemente.
Se querem invocar a modernidade, ficamos com conceitos supostamente ultrapassados. Se querem argumentar que o Guarani está atolado em dívidas e que o jeito é se desfazer do velho Brinco de Ouro, contra-argumentamos com a proposta alternativa de se fazer uso de parte do complexo poliesportivo para abrigar um conjunto de lojas ou shopping, sem jamais se conjecturar a demolição daqueles lances de arquibancadas construídos com suor, e que é uma das relíquias do clube.
Igualmente se aplica à Ponte. Se optarem transformar parte das paredes laterais externas em portas de aço para divisória de lojas, shopping, bares, restaurantes, etc, a muito custo ainda dá para engolir, mas mexer na estrutura singular das arquibancadas jamais.
Não bastasse todo processo histórico, arquitetônico e laços sentimentais dos torcedores com os seus respectivos estádios, deve-se considerar que ambos estão localizados em área relativamente central, com entorno viário apropriado para fluxo de veículos. A proximidade de terminais urbanos de ônibus facilita o percurso dos torcedores, que na maioria das vezes se deslocam a pé até os campos, após desembarcarem no centro da cidade.
Não esqueçamos que futebol é um esporte popular e muita gente da periferia usa o transporte coletivo para se deslocar aos campos. Alguém pensou no transtorno para o torcedor mandos de jogos de seus clubes no Jardim Eulina e distrito de Barão Geraldo? Difícil projetar se a Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) remanejaria incontáveis itinerários de ônibus para atender a demanda de torcedores durante jogos em outros estádios. E mais: a estrutura viária no Jardim Eulina talvez não seja tão recomendável, considerando-se o estrangulamento de trânsito em alguns períodos na Rodovia Anhangüera, nas imediações do trevo da Bosch.
Se a modernidade é relegar o torcedor, é dificultar o acesso aos supostos novos estádios, fiquemos com a estrutura que está aí e com os costumes dos torcedores. Alguém perguntou ao pontepretano que invariavelmente “morde” o alambrado do Estádio Moisés Lucarelli, que se posiciona estrategicamente para xingar o bandeirinha, se ele topa “numa boa” trocar de ares?
Pra que arena multiuso? Eventos artísticos? Afinal, quando eventos de grande porte são agendados anualmente em Campinas? Por mais que argumentem, não vão convencer. O templo sagrado de bugrino e pontepretano é no Brinco de Ouro e no Moisés Lucarelli. É óbvio. Pesquisem e vejam. E lembrem-se: a razão do clube é o torcedor.
* Crônica escrita por Ariovaldo Isac - Jornalista

Um comentário:

Pagoti disse...

Meus Amigos Ary e João, como estão. Ary, me permita elogiar sua opinião. Eu nasci e me criei na região dos estádios e não consigo imaginar o resto da minha vida passar por ali e não ver o Brinco e o Moisés. Estamos vivendo uma época onde parece que apenas o dinheiro vale sobrepujando todos os demais valores humanos (tradição, respeito, integridade, honestidade, capacidade, competência, etc.). Vou ao brinco desde os 2 anos de idade, desde os 18 quando consegui meu primeiro carro paro no mesmo lugar, de fronte a entrada do tobogã. Ali chorei de alegria e tristeza. Vi glórias e fracassos, mas torço e sou feliz como bom bugrino. Frequento o Moisés Lucarelli desde os anos 80 quando trabalhei na minha também querida Ponte Preta. Espero um dia ver um dérbi de futebol feminino nos dois estádios, remodelados e modernizados, no mesmo lugar onde estão hoje, a partir de grandes administrações e investidores que quiçá ainda virão, oriundos desta própria modernização. Vontade e dedicação são o segredo. Forte abraço.